É fato que muitos de nossos atletas e medalhistas olímpicos são atletas descobertos em comunidades ou melhor, que iniciaram seu contato com os esportes em instituições e projetos sociais em suas comunidades e, hoje, se destacam.
Não há dúvidas sobre a importância dos projetos sociais na formação de atletas, por isso, queremos abordar os benefícios dos projetos em comunidades e favelas, bem como a trajetória de resiliência e dedicação.
Você sabia que 21% das medalhas do Brasil vieram de atletas iniciados em projetos sociais? Sim! Vamos relembrá-los, mas, antes, vamos falar dos benefícios dos esportes em comunidades e favelas.
Benefícios de projetos sociais com esportes em comunidades
As atividades esportivas como parte de um projeto pedagógico mais amplo, têm sido utilizadas para fortalecer as iniciativas de socialização saudáveis presentes na comunidade, contrapondo-se à socialização exercida pela criminalidade, por possibilitar o rompimento com o cotidiano violento e favorecer o resgate e o fortalecimento dos valores humanos fundamentais da vida em sociedade.
A construção de habilidades pode ser potencializada por meio de uma prática esportiva planejada de forma que os participantes possam ter vivências sociais positivas, possibilitando obter sucesso no meio no social, seja na família, na escola, no trabalho, na comunidade ou em outros meios. Essas habilidades podem ser a comunicação com os colegas e com os adultos, a tomada de decisão, habilidades de conduta, cognitiva e física, entre outros.
A falta de perspectiva socioprofissional, muitas vezes, tende a frustrar as expectativas de futuro dos jovens que vivem nessas localidades, provocando da parte dos mesmos atitudes imediatistas e inconsequentes. Assim, a intervenção social e educacional através do esporte contribui para a formação cidadã de crianças e jovens.
Existem indicativos de que a maioria dos jovens residentes em comunidades populares – mais de 70% dos indivíduos estudados por Vianna – passam a maior parte do seu tempo livre (tempo em que não estão na escola), dentro de suas casas. Seja para cuidar da casa e dos irmãos enquanto os pais trabalham, ou por motivo da violência gerada pelo crime organizado que os confina na segurança relativa do lar.
Os jovens parecem identificar nas atividades esportivas oferecidas nos projetos sociais meios de ascensão social, de proteção e de estravazamento de suas frustrações. Frente a isso, podemos reiterar a importância e o potencial de projetos com orientação pedagógica para a construção de habilidades de vida, para socialização e melhoria da qualidade de vida de crianças e jovens das comunidades por meio dos esportes.
A prática esportiva serve como instrumento de integração de pessoas e comunidades, incentivo à participação, combate às desigualdades sociais e raciais e como meio para o resgate de crianças e jovens da marginalização e uso de drogas. Segundo o coordenador da Unesco no Brasil, “onde existem programas de apoio ao esporte para crianças e adolescentes observa-se uma queda anual de 30% da criminalidade”.
Confira outros benefícios que o acesso ao esporte nas comunidades por meio de projetos sociais promove:
1- Aumento da qualidade de vida;
2- Diminuição de riscos de doenças cardiovasculares;
3- Melhora da resistência muscular;
4- Combate à insônia;
5- Melhor desempenho de aprendizado por parte daqueles que praticam atividades físicas;
6- Alivia tensões;
7- Diminui a ansiedade;
8- Promove maior estabilidade emocional e familiar;
9- Desenvolve aspectos socioemocionais no praticante;
10- É um grande aliado para mudanças sociais positivas.
Diante de tantos benefícios, fica evidente a importância de projetos sociais em comunidades promovendo oportunidades de acesso à educação, formação e esportes. Agora, vamos aos atletas descobertos em comunidades e favelas brasileiras que têm se destacado no esporte a nível nacional e internacional.
Atletas descobertos em comunidades brasileiras
De origem humilde, muitos atletas descobertos em comunidades brasileiras passaram necessidades e, se não fosse o apoio de projetos sociais, talvez seus talentos nunca tivessem sido revelados para o mundo. Em um país que pouco investe no esporte, com pouca iniciativa do setor privado, o terceiro setor é uma alternativa importante para produzirmos cidadãos vencedores, ganhadores ou não de medalhas e títulos.
O atleta Isaquias Queiroz, ganhador do ouro na categoria da canoagem C1-1000m em Tóquio, com duas medalhas de prata e um bronze na Rio 2016, foi descoberto em um projeto social ligado ao Ministério do Esporte, em 2005, infelizmente foi extinto.
Os medalhistas do boxe, Hebert Conceição (ouro – categoria peso-médio) e Abner Teixeira (bronze – categoria peso-pesado), foram descobertos e formados nos projetos “Academia Champion” (Salvador/BA) e “Boxe – uma luz para o futuro” (Sorocaba/SP), respectivamente.
No atletismo, temos Alison Piu, vencedor da medalha de bronze nos 400 metros com barreira, descoberto na adolescência pelo projeto social Instituto Edson Luciano Ribeiro, em São Joaquim da Barra (SP).
O skate trouxe três pratas esse ano para o Brasil. Os atletas Rayssa Leal e Kelvin Hoefler também são oriundos de projetos sociais, como o Coletivo Love CT, de São Paulo, e o Instituto Ademafia, do Rio de Janeiro. Nos dois casos, as aulas de skate são conjugadas com outras práticas, como inglês, informática e artes, ampliando a formação dos participantes das oficinas.
A ginasta Rebeca Andrade, que levou o ouro no salto e a prata na ginástica artística individual geral, iniciou aos quatro anos de idade em um projeto social da prefeitura de Guarulhos, interior de São Paulo. Sem a iniciativa, o talento da ginasta provavelmente não seria revelado ao mundo.
Alguns ex-atletas que já viveram as dificuldades da carreira investem no apoio a novos talentos. É o caso do ex-judoca Flávio Canto, que, com a criação do Instituto Reação, atende mais de duas mil crianças, adolescentes e jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro e de Cuiabá. Foi do Reação que veio Rafaela Silva, primeira brasileira a ganhar ouro no judô, em 2016. Outros atletas e ex-atletas, como Paula Gonçalves (basquete), Gabriel Medina (surf) e Gustavo Kuerten (tênis), também mantêm projetos voltados para o desenvolvimento esportivo e cidadão.
Em Tóquio, um breve levantamento sobre os atletas que disputaram a Olimpíada mostrou que dos 309 atletas olímpicos, 131 não contaram com patrocínio, 41 fizeram vaquinha para ir às disputas no Japão. Por isso também perguntamos: quantos Isaquias, Erlons e Rafaelas existem e estão só esperando a oportunidade de brilhar? Quantos mais atletas descobertos em comunidades podem estar por aí aguardando uma oportunidade?
O sucesso dos atletas brasileiros demonstra mais uma vez a necessidade de apoio aos projetos sociais, em especial de grandes empresas. O IBHF atua na comunidade do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, com uma gama de atividades de formação e desenvolvimento de competências e talentos, também por meio do esporte.
Você ou sua empresa podem nos apoiar nesse trabalho de formar e despertar jovens talentos. Fale conosco!