A experiência da quarentena está mexendo em muitos setores da nossa vida. Um deles é das nossas relações amorosas, principalmente o casamento. Tivemos muitas fases desde que o isolamento começou: na primeira semana passamos por uma certa ‘lua de mel’, parecia férias, a gente ficou em casa em favor da humanidade. E aí não paramos de receber dicas de ‘como entreter as crianças’, ‘quais séries assistir’, vimos todas as lives. O tempo foi passando fomos caindo na real. Na segunda semana, tínhamos muito mais trabalho a ser feito porque perdemos todas as nossas redes de apoio.
E o que está acontecendo no casamento? O casal está tendo que lidar com situações que não lidavam antes: o que a escola fazia os pais estão tendo de fazer, o que a avó fazia os pais estão tendo de fazer, se eles tinham babá agora também são babás, se tinham alguém para fazer a limpeza da casa também são eles que têm de fazer isso, fora todas as práticas de cuidados que estão relacionadas à nova pandemia, como esterilizar tudo, voltar do supermercado e ter de tirar a roupa e botar na máquina de lavar. Isso está causando uma pressão muito grande e gerando um estresse ao qual não estamos acostumados. Isso atinge os casais, que começam a ficar ansiosos porque pensam ‘eu não estou dando conta das coisas’ ou ‘a vida está me exigindo e eu não estou produzindo o que deveria’. E isso gera, obviamente, uma pressão maior sobre a mulher, porque a quarentena está colocando em evidência a velha história dos papéis de cada um.
A mulher é quem cuida de toda a gestão da vida enquanto o homem fica com o papel de quem “ajuda”, mas só quando ela diz o que ele tem que fazer. Essa mulher também está fazendo trabalho remoto, também está sobrecarregada, também está se sentindo pressionada e aí começam as discussões dentro de casa: tudo o que não tinha sido conversado sobre esse aspecto está sendo foco de tensão e tudo o que já tinha sido conversado, mas não tinha sido resolvido também.
Muitos relacionamentos estão desabando, alguns casais estão descobrindo que o casamento só sobrevivia porque eles tinham pouco tempo de contato, se mantinham juntos por um afastamento provocado pelo trabalho e pela hora tardia em que se chegava em casa. Com esse ‘excesso de convivência’ durante a quarentena muitos casamentos já dissolveram nesses primeiros quarenta dias, inúmeros. Mas também tem um fenômeno interessante que está acontecendo que é o de casais que já estavam separados e que estão se propondo a passar a quarentena juntos em benefício da convivência com os filhos, isso também tem acontecido e é algo maravilhoso que a gente precisa ressaltar.
A quarentena nos obrigou a convivência e a ter que lidar com questões que não queríamos e da qual fugíamos. Nesse momento então, o diálogo torna mais que necessário porque não temos para onde fugir. Casais que não conversavam, não resolviam suas questões, terão de fazê-lo agora. Paciência, maturidade, resiliência nessa hora são palavras chave para lidar com a vida a dois.
Texto de Lívia Boaretto Lima – Pscicóloga do Instituto BH Futuro
