Precisamos falar sobre abuso sexual na infância – Por que escolhi este título para falar no nosso texto? Porque semana passada tivemos um caso de repercussão nacional, onde uma criança de 10 anos foi estuprada por seu tio, engravidou dele e esta semana foi interrompida, legalmente, a gestação. Por incrível que pareça, o assunto tão comentado não foi sobre o estupro sofrido por esta criança, mas o aborto a qual foi submetida. A questão do aborto não será discutida aqui, uma vez que envolve posições religiosas, e geralmente muito radicais. Mas precisamos entender o que acontece com uma menina que sofre abuso sexual, para assim, entendermos as decisões que são tomadas a partir de cada caso.
Nos dias de hoje é muito comum ouvirmos casos sobre abuso sexual infantil, principalmente quando a mídia nos traz notícias sobre tais fatos. Mas abusos acontecem desde sempre, pois crianças são extremamente vulneráveis, ficando a mercê de oportunistas e pedófilos.
Nem todo abusador é pedófilo e nem todo pedófilo é abusador, existe uma diferença que merece ser entendida. A OMS (organização mundial da saúde), considera o pedófilo como alguém que tem um transtorno mental que o leva a desejar sexualmente crianças. O abusador seria aquele que tem relações sexuais com crianças, mas não tem o transtorno. O pedófilo tem fantasias em relação a esta criança, mas não necessariamente vai abusar dela. Alguns conseguem se conter. Já o abusador aproveita da ocasião, ele é “oportunista”, ou seja, aproveita que a criança é frágil, vulnerável, tem medo, não vai reagir, para cometer o ato. O que é fato, é que a maioria dos estupros e abusos sexuais são cometidos por conhecidos da criança: padrasto, pai, avô, tio, vizinho. Alguém que é de confiança da criança, e por isso a facilidade.
Cada criança reage de uma forma, mas é comum que a criança que foi abusada começa a ter mudança de comportamento, de humor (se torna mais triste, mais introspectiva), quer ficar mais sozinha, chora por qualquer motivo, e apresenta baixo rendimento escolar, problemas de indisciplina na escola, agressividade. Não quer dizer que crianças que tenham alguns destes sintomas são abusadas. É preciso ficar muito atento para não cometermos injustiça. Avaliar se uma criança foi abusada ou não, não é tarefa fácil. É preciso cautela.
Os danos psicológicos para essa criança são irreparáveis. Podem se tornar adultos inseguros, deprimidos, com baixa autoestima, com problemas para confiar em alguém, com sentimento de culpa. É preciso que tenham acompanhamento psicológico, as vezes até psiquiátrico. A criança é um ser em desenvolvimento e irá crescer com essa marca. Podem superar, mas jamais esquecer.
Texto de Lívia Boaretto Lima – Psicóloga do Instituto BH Futuro