A juventude contemporânea: desafios do mundo em transformação. O universo se transforma a cada instante e suas mutações vêm sendo aceleradas pela atuação humana em todos os métiers da práxis e do conhecimento. Trata-se do que Parikka (2017) denominou céleres mudanças antropocênicas. Mas, ao mudar o orbe, o próprio Homo sapiens se reinventa.
Não necessariamente em aspectos físicos e fisiológicos – isso, pelo menos, por enquanto, tendo-se em vista que pesquisas já apontam para a imortalidade do homem num futuro não muito distante, conforme indicado por Harari (2020) em sua obra Sapiens: uma breve história da humanidade.
Mas de maneira efetiva, o humano vivencia dia após dia uma natureza modificada que lhe influencia em atuação simbiótica. Essa autopoiesis produziu diversas gerações de humanos com características distintas, muito embora complementares, muitas das quais se inter-relacionam nos dias atuais ampliando a complexidade da tessitura das relações também performadas pela humanidade.
Isso porque, cada geração (conjunto de pessoas nascidas em uma determinada época, num mesmo contexto socioeconômico e cultural, compartilhando muitas características comportamentais similares) possui um modo específico de se relacionar, comunicar, até mesmo de trabalhar, compreender e enxergar a realidade.
A Juventude nos dias atuais
A juventude de hoje – se considerarmos a definição etária (que provoca controvérsia) definida pelo Estatuto da Juventude que identifica como jovem todo cidadão com idade entre 15 e 29 anos (seguindo parâmetros também utilizados pela Organização das Nações Unidas-ONU, que por sua vez entende jovem aqueles compreendidos entre 15 e 24 anos) – é composta basicamente pelos nascidos entre 1995 e 2010: os chamados Geração Z ou iGeneration.
Se no passado as gerações eram definidas em períodos de 25 anos, com os constantes avanços tecnológicos, esse recorte mudou fazendo com que cada geração seja menor. No caso da geração Z, comporta indivíduos muito familiarizados com as tecnologias móveis em conexão estreita com suas vidas e hábitos.
Essa distinção permite designar que a juventude atual já nasce com a presença massiva dos computadores, tablets e celulares. Tendo a mobilidade como parâmetro de vida, a própria relação com o trabalho mostra-se fluida: esses jovens não acreditam na ideia de exercer uma determinada função por toda a vida.
Mas, ao mesmo tempo que esses jovens são inovadores, arrojados, criativos atuando em colaboração, conectados a maior parte do tempo, seguindo abraçando causas sociais e cultivando o desapego às fronteiras, eles se mostram extremamente ansiosos dada a sociedade de risco onde habitam.
A juventude e a crise contemporânea
Saindo do lugar comum de referendar a crise pandêmica mundial eclodida a partir do surgimento do coronavírus como um contexto delicado e agravante dos desafios impostos à contemporaneidade (dada a evidência inquestionável dos fatos), tem-se que a realidade pré-pandêmica já permitia ver um cenário global em perene modificação fazendo eclodir inéditos modos de ser e estar no orbe em todas as circunstâncias de atuação do Homo sapiens.
A remodelação das relações trabalhistas e previdenciárias, consequência do desmantelamento dos Estados de Bem-estar Social igualmente decorrente dos avanços das políticas neoliberais, instaurou uma ambiência mutante permeada por inúmeras crises, muitas delas, ainda em curso: como a que acomete a economia registrando altos índices de desemprego.
Todas essas situações denotam um cenário sombrio com o qual a iGeneration tem de lidar durante sua trajetória profissional. É notória a exigência de altos níveis de capacitação muito embora nem todos efetivamente serão absorvidos pelo mercado com o salário condizente ao investimento intelectual e prático efetivados, tendo, muitas vezes que se adaptarem aos baixos salários instituídos por inúmeros contratantes.
Em função dessa realidade, pode-se afirmar que a juventude contemporânea enfrenta um paradoxo: muito embora usufrua, se comparada às gerações precedentes, de significativa vantagem educacional (acesso ampliado à educação formal com tempo de capacitação dilatado), paralelamente, assiste ao despencar brutal do valor de mercado de seus diplomas.
Todos esses fatores contribuem de modo negativo e retardam, em muitos dos casos, a passagem da dependência familiar vivenciada por esses jovens para a integração plena na sociedade de modo autônomo: quando assumem todos os contornos da vida adulta.
Claro que é incontestável que os jovens experimentam no seu dia a dia certa autonomia em muitos aspectos da vida, mas, no geral, permanecem por tempo considerado num estágio de semi dependência parental, ou mesmo em relação à outros membros da família, uma vez que as condições ideais para emancipação completa tardam a se consolidar.
Imersos na “sociedade do risco” conformada pela dissolução das garantias, pela ausência de estabilidade e, pode-se acrescentar, pela instalação do que Ilya Prigogine(1996) identifica como o fim das certezas, muitos jovens compreendem que o bom caminho a seguir é investir em projetos de vida e profissional voltados cada vez mais para o imediato: focados no presente, muito embora almeja-se dividendos futuros, ainda que o futuro contemporâneo seja indeterminado e mesmo indeterminável, dado que governado pelo risco.
Diante dessas incertezas e vulnerabilidade, cabe à juventude mais do que nunca usar de sua força propulsora para a inovação e seguir imputando protagonismo ao mundo distópico onde habita.
O Instituto BH Futuro (IBHF): projetos que fazem a diferença
Acompanhando a juventude contemporânea há cerca de 15 anos, o Instituto BH Futuro (IBHF) oportuniza a esses jovens – mediante esse cenário desafiador – ações com vistas à promoção de um futuro digno.
Atuando como um hub de inovação social, oferecendo projetos culturais, esportivos, educacionais e de fomento à inovação e empreendedorismo, o IBHF já atendeu mais de 15 mil crianças e adolescentes, somando cerca de 3.500 famílias e 5.000 pessoas atendidas pelo Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte (ECE-BH).
A meta do IBHF para o aqui e agora, com tentáculos que alcancem o futuro, é seguir vencendo junto com os jovens os fatores limitantes e os desafios que se instalam a todo o tempo na sociedade de risco na qual se vive.
REFERÊNCIAS
HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Tradução Janaína Marcoantonio. Porta Alegre, Porto Alegre: L&PM, 2020. 592p. (Coleção L&PM Pochet, v. 1288)
Juventude: crises e lutas no mundo contemporâneo. Disponível em: <https://olma.org.br/2017/03/29/juventude-crises-e-lutas-no-mundo-contemporaneo/>. Acesso 29 jan de 2022.
O desafio de ser jovem na sociedade atual. Disponível em: <https://institutobhfuturo.com.br/o-desafio-de-ser-jovem-na-sociedade-atual/>. Acesso 29 jan de 2022.
O que é ser jovem para você? Disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/02/21/o-que-e-ser-jovem-para-voce.htm>. Acesso 29 jan de 2022
PARIKKA, Jussi. O antropobsceno: um tempo profundo alternativo. In: GOBIRA, Pablo; MUCELLI, Tadeus [Org.]. Configurações do pós-digital: arte e cultura tecnológicas. Belo Horizonte: Editora UEMG, 2017. 313p. Prefácio, p.156-180.
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: UNESP, 1996. 199p. (Biblioteca básica).
Ser jovem é construir e reconstruir. Disponível em: <https://nossacausa.com/ser-jovem-e-construir-e-reconstruir/>. Acesso 29 jan de 2022
Sobre ser jovem: desafios e perspectivas na atualidade. Disponível em: <http://redesolivida.org/pb/2019/08/26/sobre-ser-jovem-desafios-e-perspectivas-na-atualidade/>. Acesso 29 jan de 2022.